sábado, 3 de abril de 2010

SCOTT SCALE 35


SCOTT SCALE 35 testada no CAPE EPIC 2010 pelo atleta Carlos Lopes, e recomendada aos piores tipos de terrenos.

"A bicicleta foi fantástica, ela sobe bem, desce bem e anda muito bem, além de proporcionar desempenho também proporciona muito conforto, pois fui um dos poucos atletas que pedalaram os 8 dias de CAPE EPIC sem reclamar de dores ou assaduras." Afirmou Carlos Lopes
Sobre garantia eu diria o seguinte, durante o CAPE EPIC vi muitas bicicletas quebrarem, inclusive duas CANONDELE Scalpe - o lançamento desta marca - e durante discussões sobre garantias, Alfredo Montenegro reagiu reforçando a garantia das SCOTT`s, pois é distribuidor da SOCTT e garante sua imediata garantia. Detalhe: não vi nenhuma SCOTT quebrar durante o CAPE deste ano.

Agradecimentos

Queria inicialmente agradecer a quem esta há mais tempo comigo, Luiz Alberto Arquitetura, que tem me dado apoio moral e financeiro, e acreditado em nosso futuro como atleta e como uma opção de marketing alternativo para sua empresa.

Agradecimentos ao apoio da Prefeitura de Maranguape através do vice-prefeito Eduardo Gurgel e ao comerciante maranguapense Arlindo Mota, que mais do que apoio financeiro tem dado apoio moral e total atenção as minhas necessidades. Sem duvida Arlindo Mota é exemplo de moral, carater e de amigo do esporte.

Ao Governo do Estado, atraves da secretaria de esporte e do secretario Ferrúcio Feitosa por ter cedido às passagens aéreas para a viagem.

Queria agradecer ao meu parceiro e agora grande amigo Alfredo Montenegro pela grande oportunidade e pelo total companheirismo e a atenção me dada, espero estar sempre à altura de suas expectativas, superando-as sempre que possível. Seu apoio e confiança deram vida nova ao atleta Carlos Lopes, e ajudaram a criar novos projetos colaborando para a permanência de mais um atleta na ativa, frente a esta incrível realidade irresponsável e inconsciente por parte de quem administra o esporte e que cerca o esporte amador.

Ao Bike Ceará e ao Marcelo Facó, por ter acreditado e depositado investimento em nossa empreitada.

Aos nossos apoiadores MITO, Espaço Vital, Federação Cearense de Ciclismo, SCOTT, Super Mota Ciclone, MARANBIKER, Jornal O Esporte, Jornal A Cidade, Maranguape FM, ao site MEDGONBIKES.com.br, ao programa bola 5 do canal 5, a MPETV, ligue - ce, TV Jangadeiro e amigos.

A minha equipe de trabalho que tanto tem acreditado e investido seu tempo e sua torcida, a Fisioterapeuta Niviane de Maranguape que tem atendido minhas contusões sempre de imediato, a Nutricionista Danyele Lodete por ser tão compatente, Ms. Adriano César que além de treinador é amigo, ao Psicólogo Ricardo Ângelo que responde meus e-mail sempre que possível, ao cardiologista Demóstenes e a todos os apaixonados pela ciência do treinamento desportivo de alto rendimento que tem tirado minhas dúvidas sempre que as tenho.

Queria agradecer a minha Mulher, Filha, Pai e Avó pela preocupação que é sinônimo de carinho e amor depositado em mim.

E a todos que ficaram na torcida enviando comentários para nosso blog, pois nos engrandecia e colaborava para aumentar a forca que nos movia a vitória.

Obrigado a Deus por nos ter dado proteção e tranqüilidade para enfrentar nossas dificuldades.

Enfim, obrigado a todos!

domingo, 28 de março de 2010

CAPE EPIC - ultimo dia - AMABUBESE garantido


Após um dia extraordinário, onde o cenário foi de total confraternização até durante a prova. As disputas acabarão, tendo o objetivo de apenas completar a prova, nós terminamos com total emoção de completar o CAPE EPIC.

Meu amigo ainda com muitas dores, numa cena chocante, mais engraçada, onde passou a substituir seus carboidratos por paracetamol para suas dores. Ele colocava de três na boca e dizia mastigar ao invés de engolir, acreditando que a digestão seria mais rápida.

Entretanto, e após muito sofrimento, meu amigo Alfredo Montenegro recebe seu tão sonhado titulo de AMABUBESE. Titulo dado a todo atleta que termina o Cape Epic por três vezes. No seu caso foram os anos de 2008, 2009 e 2010. E eu tive a grande honra e a satisfação de lhe acompanhar e contribuir para que este título viesse e assim representar tão bem nosso estado que agora conta com o primeiro cearense AMABUBESE.

Se eu tivesse terminado sozinho não teria tido tanta emoção de terminar acompanhado de tanta gente emocionando-se todos ao mesmo tempo. Em total festa de confraternização com os atletas e a organização chegamos ao fim, e agora é retornar para o aconchego de nossos lares e o calor de nossas mulheres e filhos.

Assim que chegar ao Brasil atualizarei os textos, na ortografia e concordância, colocando mais detalhes nos textos e carregando o blog de fotografias.

Agora queria agradecer a todos que nos acompanharam na torcida e dizer que fizemos o melhor que fomos capazes, para representar nosso país e tudo mais que podemos.

Obrigado e ate o Brasil se Deus quiser!!!

Carlos Lopes

sábado, 27 de março de 2010

CAPE EPIC - dias 6 e 7


Mais dois dias, mais duas vitorias. Agora são 7 e só falta 1. O sol deu uma trégua e nós deslocamos para uma cidade bem fria, e agora nosso inimigo é o frio. De cara já fiquei com minha garganta muito ruim e tive que ser atendido no Medical Center. Agora estou bem, contudo o Alfredo sente muitas dores nas suas duas panturrilhas e está sendo atendido diariamente na fisioterapia.

Eu diria que o meu maior problema atualmente não é o cansaço físico, mas sim o mental. Já estamos bastante cansados psicologicamente, e eu já começo a esquecer coisas com facilidade, ontem perdi minha maquina fotográfica duas vezes, e a peguei de volta nos achados e perdidos.

Nossos reflexos já não são os mesmos, e temos que ter a atenção redobrada para não cometermos nenhum acidente. Aliás, ontem o sexto dia de Cape Epic foi marcado por muitos acidentes, inclusive com os brasileiros. Um deles ficou desacordado momentaneamente na trilha, mas se recuperou e inclusive participou hoje do sétimo dia.

Ontem 123 km pedalados em 8 horas, e hoje mais 99 km pedaladas em outras 7h40min. A rotina é massacrante, pois acordamos diariamente às 5h no frio muito intenso e tomamos rapidamente nosso café da manhã e saímos para uma pedalada de 7 horas em média. Ao chegar, arrumar a bike para o dia seguinte, pegar a fila do banho, a fila do café, a fila do jantar e cumprir outras responsabilidades para estar na barraca no máximo às 22h.

Aqui o jantar é sempre motivado pela festa de premiação de cada etapa, com apresentação do filme gravado no dia e slides dos atletas. Tudo com locução empolgante de um profissional e com muita trilha sonora.

É claro que parece ser o sonho de consumo de todo ciclista que se presa, contudo há uma grande diferença em sonhar e ter. São realidades bastante diferentes. No meu caso - meus amigos - acho que fui feito para isso e agüento viver sobre pressão. Só não sei por quanto tempo. É uma pena que o esporte amador como é tratado no Brasil não nos dá muita motivação para seguir em frente, nossa motivação é garantida por muita forca e perseverança. E eu não acho que tenha nascido no lugar errado, mas sei que eu tenho um grande trabalho pela frente, se eu quiser contribuir para mudar esta realidade por menor que seja.

Agora vão algumas dicas para quem pretende enfrentar um CAPE EPIC: primeiro, se tiver grana para comprar uma bike com suspensão Fu faca, mas se não tiver uma rabo duro de carbono serve, mas não se atreva a vim de rabo duro e de alumínio. Isso seria muito doloroso. Também acredite, freios são os a disco, do contrario, sua prova se encerra no primeiro dia. E mais, quando vier traga rádios para se comunicar com seu parceiro sempre que quiser. Isso não é durante a trilha, mas no tempo em que estamos no acampamento. O acampamento é grande e perdemos muito tempo nos procurando.

Agora voltando para a prova, acredito que amanha finalizaremos nosso objetivo aqui com muito sucesso e Alfredo receberá seu titulo de AMABUBESE (quem termina 3 CAPE`s).

Para todos que torcerão por nós, continuem, pois ainda não acabou. Meu já muito obrigado!

Carlos Lopes

quinta-feira, 25 de março de 2010

CAPE EPIC - quinto dia


Hoje chegamos à frente dos top 15 do mundo, não é brincadeira e sim pura satisfação. Na verdade hoje foi uma prova de contra-relógio e o alinhamento de largada foi de trás para frente na classificação, e assim os top largaram por último. Com isso pude finalmente receber parte de meu pagamento por estar aqui, pois tirei fotografias com Karl Plat e Stefan Sahn, Christoph Sauser, Nino Shurter, Jose Hermida, Kevin Evans, Thomas Dietsch e Tim Boehme, dentre outros. E enquanto eu tirava minhas fotografias, o Alfredo corria atrás deles com camisa em uma mão e caneta em outra lhes pedindo suas assinaturas.

Sobre a prova, hoje foi como um descanso ativo comparado aos 4 dias anteriores. Hoje pedi meu amigo licença para ser o capitão e fui o mais agressivo que poderia ser. Claro que fiquei preocupado com a estratégia que planejei, pois se falhasse eu iria perder a confiança de meu parceiro, e por ser bem mais novo que ele, talvez não a recuperasse mais.

Então pedi para levar tudo e fui o "burro de cargas", e durante a prova meu parceiro teve a humildade de render-se a minha forca, já que a prova era como um XCO - tipo de prova que treino semanalmente o ano todo. Durante o percurso fomos mesmo agressivos e Alfredo subiu bem, desceu bem e andou muito bem. Eu puxei, empurrei e chamei sempre que tive oportunidade, e no final fizemos o melhor que fomos capazes. Acredito que muitos aproveitaram o dia para relaxar e recuperar-se dos primeiros dias pensando nos próximos, já nos tentamos recuperar o tempo e as posições que perdemos ontem devidos tantos imprevistos.

Aqui sim é um lugar para se buscar humildade, é também um lugar muito difícil de descrever, já que muitos - principalmente os mais novos - desprezam a forca de quem vem aqui e a forca deste lugar. Sem duvida um dia apenas de Cape Epic deixaria estas pessoas, ou estes atletas bem mais humildes. E se você já é humilde, certamente ficara mais, ou se é muito humilde então o Papa lhe dará o titulo de Santo. Nos 4 primeiros dias eu tive a humildade de ouvir meu parceiro, e hoje ele teve a humildade de reconhecer minha forca e deixar que lhe ajudasse. Acredito que amanha será ele quem dirá as regras, pois para uma prova de 123 km de nada adiantara minha forca sem a experiência de Alfredo. Sozinho seria bem mais difícil chegar, mas com ele há uma grande possibilidade.

Agora vai mais uma dica de CAPE EPIC. Meus caros amigos, quem tiver sua bicicleta pelo menos arranhada, ou sua sapatilha velha, luva rasgada, deixe em casa. HA! E não se esqueça de vim para cá de uniforme novo, pois este seria um grave erro. É isso mesmo, aqui o povo é chique e deixa para inaugurar suas bikes novas aqui e tudo mais, as mulheres arrumam até seus cabelos nos PC`s e todos estão combinando, o brinco combina com a bike, as sapatilhas e roupas e tudo mais estão sempre em perfeita harmonia. Lembrem-se que em se tratando de Mountain Bike, esta é a competição mais top de todas na categoria maratona de etapas.

E nós. Não temos mais dores, e estamos muito bem, contudo as assaduras de Alfredo só ficaram melhores no Brasil, pois aqui elas só pioram. Como já devem ter percebido, minhas pernas não doem e não estamos mais tão cansados. Entretanto, amanha será o dia com mais km na programação da prova, e certamente ira quebrar muita gente. Agora estou a dar manutenção em minha bike, e nos preparando para enfrentar mais um longo dia de CAPE EPIC.

Carlos Lopes

quarta-feira, 24 de março de 2010

CAPE EPIC - quarto dia


Aqui dia nenhum é fácil, pois iniciamos o dia muito bem fisicamente e melhor ainda psicologicamente. Apenas tive grande dificuldade de tomar meu café da manhã.

Então, saímos sem atrasos desta vez e começamos a prova bem forte, e logo no final dos primeiros 10 km a corrente de Alfredo trava entre a catraca e os raios de sua roda traseira. Durante quase 10 minutos ficamos tentando tirá-la de lá, e já estávamos bastante desanimados em conseguir quando finalmente conseguimos. Entretanto, com aquele vexame todo meu amigo acabou por empenar seu passador, e como castigo de seu próprio erro, teve que pedalar por muitos km com suas catracas desreguladas e lhe faltando as 3 maiores catracas de forca, o que lhe causou um grande desgaste físico. Além do mais, logo apos o primeiro conserto, e com ainda motivação para buscar melhores colocações, resolvi colocar um bom ritmo que por um período ficamos a ultrapassar diversos atletas até que Alfredo bate o pneu dianteiro em uma pedra amassando seu aro e ficamos no "prego" novamente. Agora sem "no tubbles" - e sem bomba para enchê-lo de ar novamente. Ficamos na beira da estrada pedindo auxilio até que um gringo resolve nos emprestar sua bomba e apos vários minutos retomamos a prova. Logo em seguida, sua corrente trava novamente e ao parar para consertar percebe que seu freio traseiro esta travando e viramos mecânicos de vez. Mais alguns minutos e então resolvemos apenas terminar a prova, dai então só fotografias e muita brincadeira e diversão com gringos e brasileiros que nos acompanham até o final. No final, meu amigo estava bem cansado fisicamente e psicologicamente. Eu estava muito bem fisicamente, mas arrasado psicologicamente.

A prova de hoje foi vencida novamente pela dupla Chistoph Sauser e Burry Stander que avançam e aproximam-se dos lideres Kevin Evans e Alban Lakata. O dia hoje não foi dos brasileiros que tiveram diversos problemas, dentre eles a dupla que melhor vinha na prova "Hugo Prado Neto e Uirá". Uirá perdeu as forcas durante a prova e também o parceiro que aparentemente sem perceber avançou o suficiente para receber uma bela punição da organização e cair na classificação. Michel Bogli que também vinha muito bem fura pneu por duas vezes e também cai em sua classificação. Um brasileiro com lesão na panturrilha termina a quarta etapa se arrastando e provavelmente amanha não alinhará na largada. No mais a etapa foi difícil para todos.

Durante a prova presenciamos mais um acidente após uma breve descida, este menos grave, o atleta estava de pé sendo atendido e tinha um corte na testa.

Nos acampamentos a cena passa a ser bem engraçada, atletas com braços, pernas, ombros arranhados de muitas quedas, aos montes. O mais comum de se ver é atleta sendo atendido com assadura na "bunda" e o Medical Center esta cheio deles. O povo parece de alguma tribo que anda sem esticar as pernas totalmente, andam todos mais baixos que o normal e de pernas abertas. É muito engraçado. O negão lá do atendimento medico já virou até piada, e a Renata Falzoni esta solicitando voluntário para ser filmado enquanto o cara conserta sua bunda. Até agora ela não conseguiu nenhum voluntário.

Algumas dicas aqui são demasiadamente uteis. Por exemplo: jamais sair sem protetor solar, seria um erro quase fatal. Acredito até que os Sul Africanos fazem os melhores protetores solares, pois recebemos um da organização em nosso kit atleta que é uma maravilha.

Também não saia sem um lenço para cobrir o rosto, pois a poeira me fez descobrir do que são feito os talcos para nenê. Sabem de que? O talco é feito do barro da África que é fino e parece que é mais leve que a gravidade, pois só em pensar a poeira já sobe e ficamos brancos, marrom, etc...

Outra cena mais me impressionou hoje, atravessamos locais secos e quase desérticos, porem a água é abundante, e vemos plantações e mais plantações, até de uva. Canais de água cruzam por toda a África, levando água a quem precisa. O que é difícil de ver no Brasil e seus interiores, pois lá o que vemos são carros pipas durante as eleições levarem água para as comunidades em nome de Fulano ou Cicrano. E quando as obras são liberadas no Brasil, elas no papel são até bonitas, contudo quando postas em prática o que vemos é muita burocracia para minimizar os problemas de desvio de verbas, o que também não acontece, pois o desvio de verbas paga muito salário de político e de empreitor. Acredito que falta a nós boa vontade, e responsabilidade em fazer cada vez melhor. Tudo isso também poderia ser resolvido com um pouco de boa vontade e competência da população em fiscalizar.

Ontem estávamos em CERES e hoje nos deslocamos para WORCESTER, teremos pela frente um contra-relógio de curta duração onde tentarei motivar Alfredo a ganhar algumas posições e botar pressão nos que estão a nossa frente.

No mais tudo bem e hoje meu amigo terá sua reunião de embaixador do CAPE EPIC no Brasil, e para todos até amanha se Deus quiser.

Carlos Lopes

terça-feira, 23 de março de 2010

CAPE EPIC - Terceiro dia


Hoje a temperatura chegou a 48 graus e pedalamos de 7 horas da manhã ate às 16 horas, em um ritmo forte e constante, concluindo a prova em um tempo surpreendente. 7h e 40min de prova. Nem eu mesmo sei o que eu estou fazendo, hoje foi sim uma tremenda vitória, e, por vários momentos, me vi a puxar um pelotão de vários atletas que aos poucos foram ficando pelo caminho e nós fomos ganhando cada vez mais posições. Acredito que devamos ganhar várias posições. Desculpem-me a falta de humildade agora, mas eu me senti um verdadeiro ciclista passista Europeu.

Aqui quando o sol vai se pôr já são quase 20 horas e às 18 horas ele é tão quente que parece 12 horas no Ceará. Isso não é tudo, durante o final da madrugada a temperatura abaixa dos 10 graus e hoje pela manha meus lábios estavam rachados de frio e meu nariz, quando me assuava, saia sangue.

Hoje já amanhecemos de luto, pois na madrugada perdemos um companheiro que faleceu de parada cardíaca. Acredito que de morte súbita, devido ao cansaço. E ainda durante a prova, eu e Alfredo presenciamos um resgate de um atleta que caiu após uma longa e terrível descida. Logo após nossa passagem o helicóptero nos sobrevoou, acreditamos que para resgatar o atleta acidentado.

Sobre o meu amigo, eu diria que aquele pequeno Alfredo Montenegro que conhecemos pequeno e franzino lá no Ceará, aqui se transforma num gigante. Eu já o perguntei que diabos é que ele faz, porque parece que entra em metamorfose.

A única dificuldade que tivemos hoje foram às dores nas nossas pernas, e a bunda do meu amigo que já esta cortada de tanto tempo que já passou sentado naquela sela de bike. Não sei se para me assustar, ou para me por na realidade, mas quando o perguntei se minha dor era normal ele disse:

"Não te preocupa, é melhor esquecer de vez, porque além de ela não passar ela vai piorar e também vai começar a doer em outros cantos também." Então, isso que e amigo de verdade.

A organização da prova é simplesmente surpreendente, contudo é bem fácil observar que aqui a organização esta em total harmonia com as autoridades políticas, polícia e emergência médica. Já isso só acontece de onde eu venho, quando a prova é organizada por eles ou os amigos deles, ou quando eles conseguem molhar bem suas mãos. Até a população envolve-se com a prova, por onde passamos somos aplaudidos pelo publico que corre para as montanhas simplesmente para nos ver passamos. Quando passamos em frente a um colégio, até as aulas param para os alunos correrem para as estradas. Hoje tinha um agricultor no meio da trilha com uma mangueira jogando água nos atletas, e isso não fazia parte da organização da prova. Aqui as autoridades vêm cumprimentar os atletas, já de onde eu venho, organizamos uma prova que contou com a presença de um atleta olímpico brasileiro que se quer teve atenção, ou foi cumprimentado por algum representante do poder municipal. Felizmente, no momento em que organizávamos o MARANBIKER 2009 tivemos a total atenção de Arlindo Mota - comerciante de Maranguape - que nos deu sua atenção e inclusive foi ao aeroporto buscar nosso atleta, e durante toda a competição esteve conosco, organizando inclusive um almoço em sua residência para organizadores e atletas se confraternizarem.

Bem, seguimos em frente e amanha será um novo e belo dia. Estamos muito bem fisicamente e principalmente psicologicamente, continuando acreditando que ao final receberemos nossa medalha e nossa camisa de finish.

Carlos Lopes

segunda-feira, 22 de março de 2010

CAPE EPIC - Segundo dia


Esta prova é uma grande professora, porém precisa ser um bom aluno, do contrário, não se aprende nada. No meu caso, tenho um bom facilitador: Alfredo Montenegro. Segundo suas humildes, mas incríveis palavras - "Aqui o buraco é mais embaixo." Realmente é engraçado este termo, porém parece mesmo definir o significado de CAPE EPIC.

Na prova de hoje não cometemos os mesmos erros do primeiro dia, entretanto cometemos o erro de perder a largada e sair com 15 minutos de atraso. Passamos por muitas savanas, varias montanhas e uma quantidade de single trak’s que ultrapassou os 80 km, e já durante estes dois dias já pedalamos mais que um Piocerá. É mesmo muito, ainda mais para alguém que nunca havia pedalado mais que 4 horas ininterruptas ou 110 km ininterruptos. Realmente já fiz 350 km em uma 24 horas de ciclismo, mas parando de 25 em 25 minutos. Como diz o meu parceiro: "Isso aqui e diferente de tudo que você já viu".

Fizemos uma prova de recuperação e ultrapassamos uns 300 ciclistas, chegando bem adiantado e otimistas. Não tivemos nem suspeitas de cãibras.

Durante as duas primeiras etapas duas coisas aparentemente típicas da África me fizeram situar-me nesta incrível realidade: na etapa anterior passamos por uma manada de Babuínos na estrada que quase provocaram um acidente com os ciclistas, e hoje passamos por um local onde as crianças imploravam por comida, e neste momento entregamos tudo o que tínhamos nos bolsos: barras de proteína, cereal, fruta, e até carboidrato em gel eu entreguei. Corremos neste momento o risco de ficarmos sem o nosso e prejudicarmos a prova, no entanto amanha reservaremos um de nossos bolsos para momentos como esse. Foi sim emocionante.

Ainda sobre a etapa primeira, esta foi vencida pela dupla KEVIN EVANS da África do Sul e ALBAN LAKATA da Áustria.

Mas falando sobre acidentes, ontem um atleta caiu e teve fratura exposta no braço. E hoje o Midical Center já esta bem carregado, parecendo um belo IJF de Fortaleza. Não estou dizendo isto para assustar nossas famílias ou nossos amigos, pois acredito que eu e Alfredo nada sofreremos até o fim da prova. É bem simples acreditar no que falo, pois não corremos contra ninguém, apenas contra nós mesmo e contra a realidade que nos cerca de onde viemos. Para que alguma autoridade possa nos cobrar alguma posição, a nossa assistência teria que estar a altura. Ou seja, esses caras vivem em lugares que os garantem uma estrutura profissional, e de onde viemos? Que tipo de estrutura é oferecida. Nossa realidade lá é contraposta a profissional. Eu mesmo já tenho vários títulos estaduais e sou o atual campeão cearense de mountain bike na categoria mais política desta minha modalidade, que é a Olímpica. Porém, nem uma simples bolsa atleta não tenho, pois para tê-la teria que viver em total estado de pobreza e minha renda familiar não poderia ultrapassar R$400,00 mensais. Isso não é nem os dois pneus da minha bicicleta. E fácil perceber porque que Lula reclamou tanto dos nossos últimos resultados olímpicos, só ele é que não percebe. Não fazemos esporte de rendimento, fazemos esporte apenas de inclusão social. O esporte de rendimento está tão distante quanto a mentalidade que nossos administradores. E acredito que o esporte deveria ser trabalhado em toda sua magnitude, do contrario, seremos sempre discriminados por onde passamos. Não fosse ao menos nossa perseverança e nossas atitudes, e nosso carisma, nem amenos existiríamos...

Desculpem o desabafo, mas a situação em que nosso esporte se encontra me motiva a estudar Gestão Desportiva e Marketing Esportivo, agora tenho uma visão que me deixa muito inquieto para poder contribuir com as melhorias que todos merecemos, precisamos, e para as próximas gerações. Se isso não mudar agora, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro será uma lastima. E o melhor seria aproveitar o grande momento, que é oportuno, para mudar os rumos do esporte brasileiro. A pouco tempo sediamos os jogos pan-americanos, e nos próximos 6 anos vamos sediar os 4 maiores jogos do planeta. Tudo isso num prazo inédito jamais realizado por nenhum outro pais. A copa do mundo da FIFA, os Jogos olímpicos, os jogos paraolímpicos e os jogos militares olímpicos.

Vamos criar uma nova consciência e mudar parte desta sociedade que anda desprovida de conceitos e valores verdadeiros de cidadania e dignidade...

Agora voltando para a prova, não sei se amanhã estarei aqui para poder redigir alguma coisa. Não por morte ou acidente, mas especulam-se os boatos que a prova de amanha terá uma duração de umas 10 horas e será uma das mais duras. Acho que se passar por essa, chegamos ao fim. A quantidade de desistência já é bem grande e acredita-se que amanha desistirá uma quantidade maior de atletas que os dois primeiros dias.

Então, desejem boa sorte para todos que estão aqui e até amanha se Deus quiser...

Carlos Lopes

domingo, 21 de março de 2010

CAPE EPIC 2010 - O primeiro dia


Certamente este deverá ser um dos dias mais cansativos, devido termos acordado muito cêdo para o café e os preparativos antes do ônibus que nos levaria para a largada em outra cidade.

E após 117 km e 8 horas de pedal chegamos muito cansados, os dois com cãibras, e já muitas historias para contar. Ao chegar descobrimos que o dia foi demasiado cansativo para todos e muitos até não conseguiram completar a prova que passou por varias montanhas, deixando até a impressão de estarmos subindo para o céu de tão alto que fomos.

Ouvir falar que o Cape é difícil, não nos da à sensatez de saber que realmente é. Passamos por diversos momentos difíceis durante a prova, e eu particularmente tive a ingenuidade de achar que poderia puxar o Alfredo a prova toda. Então foi já no km 50 que descobri que se o fizesse, estaria arrasado antes que o dia terminasse, e sem duvida não chegaria ao final da semana.

Agora ouço as palavras de meu amigo que me trouxe ao fim desta cruzada. “Correr o Cape Epic não têm momentos fáceis, e tudo só tende negativamente...” Afirmou Alfredo Montenegro.

Para mim o momento mais difícil da etapa foi os 10 km percorridos encima dos trilhos do trem, isso já no final acabou com as minhas costas e os meus ombros. Sem duvida foi como um castigo aquele pula-pula de mais de 30 minutos. Já o melhor foram as incríveis paisagens de montanhas, savanas e os picos mais espetaculares que percorremos. Chegar ao final também foi emocionante e resgatou nossa motivação para estarmos prontos amanhã novamente.

Também me impressionou bastante ver todos aqueles atletas de varias nacionalidades, com portes físicos bastante favoráveis a verdadeiros atletas de ciclismo ficando para traz, e até caindo no chão com muitas cãibras, e ver o Alfredo Montenegro ultrapassando todos eles, mesmo com seus 53 anos de idade. Como ele diz: “Isso é uma corrida de cabeça e não de músculos.” Meu amigo é um verdadeiro herói e conhecido por todos. Por onde passa deixa sorrisos.
Ao fim desta etapa os brasileiros melhores colocados foram A dupla formada por Hugo Prado Neto e Uirá com um 28.

Agora é correr para o banho, comer, arrumar a bike, atualizar as informações na internet, o congresso técnico e enfim dormir para acordar as 5h novamente.

Já no acampamento no inicio da noite, percorrer o acampamento até assusta. Ver tantas pessoas se esticando pelo chão de cãibras e todos exaustos.

Também não sei como estará minha cabeça, minha motivação e meu tempo para conseguir escrever palavras a altura de quem aqui lê nossa historia. Espero agradar e farei o possível para estar aqui todos os dias atualizando informações e fotografias.

Um forte abraço a todos, Carlos Lopes

sábado, 20 de março de 2010

Cape Epic - Conhecendo Cape Town


Coisas muito boas, coisas desafiantes, fotografias que não foram tiradas, falta de comunicação, Bikes, cartão de credito e computador…

Caros amigos, primeiramente desculpem-me pelas palavras sem acento ou escritas erroneamente, mas o teclado dos computadores por aqui não são como os nossos. Contudo, assim que eu voltar atualizo os textos que terão que ficar assim por enquanto, meio errados.

Então vamos lá, a primeira impressão já foi de estar tudo errado por aqui, os carros andam na contra mão e a direção fica do lado do passageiro. Nossa primeira parada foi no hotel “president hotel”, um belo hotel que nos reservou surpresas inesperadas.

Nossa primeira obrigação: Ajeitar as bicicletas que devido outros compromissos mais importantes e até cruciais, ficaram para serem resolvidas aqui. Na loja nossa primeira surpresa foi conhecer o mecânico de Lance Armstrong e sua bike de apenas 6.8kg. Na verdade ainda não temos certeza, e ninguém tem, mas parece que Lance estará aqui para divulgar sua instituição de luta contra o câncer. Mas vamos lá, de volta as bikes o Alfredo se apresentou um genuíno brasileiro. Como? Vou dizer como! Dizem que por aqui não existe esse negócio de desconto, mas é que não encontraram a pessoa certa. Meu amigo chegou para o vendedor e disse logo que era amigo do dono (esse depois passou por nós e parece que não nos viu, ou não nos conheceu), bem, então disse ao vendedor que conhecia outra loja aqui em Cape Town com super preços e já foi mostrando-lhe sua lista com os preços. Resultado: o vendedor quase caiu para traz. Mas depois de umas 2h de conversa ele obteve 20% de desconto em tudo. O vendedor só teve que fazer tudo reservado para que os outros clientes não pudessem ver.

Contudo, apesar de sua atitude de resolver o problema dos preços, eu tive que resolver o concerto de minha bike mesmo sem saber falar Inglês. O fato é que meu amigo estava parecendo um mágico, e dizia que minha bike estaria pronta mesmo sem ninguém tocar nela. Depois fiquei pensando se ele não teria realmente poderes sobrenaturais. O resultado é que ficou tudo pronto no dia seguinte às 14h.

Problema das bikes resolvido, agora mais um para não perder o costume: vai ai uma grande dica meus amigos, jamais deixe para comprar maquinas fotográficas nos locais onde iram viajar porque até la já terão perdido muitas imagens que jamais voltaram. Contudo, na quinta-feira apos já ter perdido um bom numero de imagens que agora só são lembranças surpreendi-me com o empenho de meus amigos Jose Filho, Lourenço, Paulo Brandão e Eugenio Vilar – este ultimo mais interessado e competente nas informações que tinha – por um instante estava cercado de assessores querendo me ajudar. Entretanto, a ajuda foi interrompida por outro que disfarçado de amigo nos chamou para comer um maçarão que como um grande castigo custava R$70,00 para cada um, e o castigo só foi ainda maior porque quando voltei para comprar a maquina que meus companheiros me ajudaram a escolher, estava fechada. Ha! O macarrão estava delicioso.

Agora vamos para o próximo: seu cartão de credito aqui não estava prestando para comprar nem um bom-bom. E pior, era com ele que iria realizar todos os pagamentos até a volta. E agora? Após umas 50 tentativas de telefonemas e muita preocupação, o problema ficou resolvido na sexta-feira feriado no Brasil. Neste mesmo dia, antes mesmo de resolver o problema anterior, aparece outro que vamos falar mais embaixo só após contar algumas coisas boas.

Então vamos falar de Cape Town, Cape Town é maravilhosa com muitas peculiaridades suas e outras adquiridas pelas suas circunstancias. Certamente vou querer voltar aqui. Estamos num hotel que fica quase a Beira Mar de uma avenida como a Praia de Iracema em Fortaleza. Compras! Então, dizem meus amigos e a população comenta que tudo ficou mais caro este ano devido a Copa do Mundo da FIFA, realmente os preços estão parecidos com os do Brasil. Mas como qualquer lugar longe de casa que se vá, aqui tem coisas que não encontramos la, e uma população verdadeiramente montada “na grana”. Só hoje vi 2 Ferrari, 1 lamborgni e 2 poche, não sei nem se realmente se escreve assim, mas ate parece que a fabrica da BMW é aqui, pois parece um carro popular, comparando-se com a quantidade de gol ou palio que temos no Brasil. O lugar é um sonho, e o Alfredo já ta fazendo até contas para ver se vende seu apartamento e compra um aqui. Deve ser brincadeira, mas certamente não seria ruim.

18 de marco – Robin Island

É isso mesmo, conhecemos a ilha onde passou parte de sua vida e a maior parte do tempo que ficou preço, o Líder Sul Africano Nelson Mandela. Para quem quer saber como é na ilha, o filme “Nelson Mandela” não deixa a desejar e como eu assisti antes de vim para ca, pareceu que eu já conhecia a ilha. A ilha é fantástica, e virou um grande museu a céu aberto, onde andamos de bike e contornamos seus 7 km de Estrada, juntamente com o guia que contou parte da historia desta pessoa fantástica que foi Mandela. Certamente que Mandela tem seus inúmeros defeitos, e que para vencer declarou e defendeu a luta a armada liderando mesmo a morte de muitas pessoas. Isso para conseguir a atenção de que precisava para sua Vitoria. Não sei se justifica, mas foi o que fez conseguir seu sucesso. Fora isso, realmente me surpreende saber que uma pessoa que viveu presa sem qualquer comunicação conseguiu atingir tão alto nível de influencia política. Parece que simplesmente a sua presença e em saber que estava vivo, as pessoas se motivavam a lutar pela causa. Claro que motivadas também por suas próprias vitorias e suas liberdades. Enfim, pegamos o barco para a ilha pela manhã e retornamos após todo esse tur à tarde.

Retornamos da ilha e enfim mais uma Vitória, já podia tirar minhas próprias fotografias. Não por falta de dinheiro, não desta vez, mas pela quantidade de compromissos com a organização da prova e todos os outros inesperados compromissos que arrumamos aqui logo que desembarcamos, me impossibilitaram de ter a maquina fotográfica.

Ainda na quinta-feira, um desastre emocional para mim: ao retornar no quarto de hotel à noite e após o passeio na Ilha, e a minha tão feliz compra, vejo que meu computador sumiu. E junto com ele muitos trabalhos que sem back up não terei como recuperar. Bem, apesar de toda a assistência de que os gerentes do hotel me deram, achei que após 2 dias não terem resolvido tinha que pedir auxilio da policia. A verdade não é que fui displicente, pois o hotel dispõe de uma segurança especializada, e que de posse até de um polígrafo e um sistema de segurança, chegamos no sábado e nada foi resolvido. Resultado, a organização do evento, a gerencia do hotel, e a policia estão me dando atenção para resolver este problema. Sem esquecer em hipótese alguma do grande amigo que arranjei aqui, Eugenio Vilar, que foi meu interprete até conseguirmos encaminhar o caso. Alguns até me mandaram esquecer, mas deixo aqui uma mensagem que cerca a minha opinião e consciência:

“Podemos até falhar, mas jamais devemos deixar de fazer tudo que podemos, do contrário a vitória será a pior das incertezas.”

Bem, acho que caso encaminhado, e sabendo o quanto todos por aqui estão empenhados em satisfazer os visitantes e tornar a Copa do Mundo uma grande festa, entidades privadas e governamentais – inclusive a policia – estão empenhadas em tornar tudo um grande sucesso. Por isso estou até aliviado, pois além de ter feito o que eu poderia, eles falaram em me ressarcir dos danos materiais. É claro que o que tinha no computador era mais valioso que o próprio, mas saber que as pessoas estão empenhadas em resolver ou satisfazer, já traz uma grande satisfação.

Durante mais este, resolvemos outros mais compromissos da prova e agora nossas bikes já estão dentro do caminhão para partir e nossas bagagens estão prontas.

Também tivemos a idéia de me cadastrar como jornalista e agora tenho regalias que os outros atletas não tem, e a vantagem de ter um computador com internet para mim durante o tempo que estaremos atravessando a África. Assim, saibam que poderemos nos comunicar e estar atualizando nosso blog.

Sobre a prova estamos muito tranqüilos, não sei se os outros problemas nos fizeram fortes, mas a verdade é que estamos realmente prontos para receber a famosa medalha de Finish quando completarmos os 800 km, e meu amigo Alfredo seu titulo de AMABUBESE. Este eu poderia ficar falando aqui muito, pois na verdade nos tornamos grandes amigos e não poderíamos ter formado uma dupla melhor. Eu não tenho duvidas que chegaremos do outro lado. E meu amigo… Ha meu amigo… seu carisma até causa ciúmes por onde passa, e é cumprimentado por todos, até os que não o conhecem o abraçam… Amanhã certamente traremos mais um capítulo de nossa historia aqui, o “Day one in cape epic 2010”.

Carlos Lopes

quinta-feira, 18 de março de 2010

CAPE EPIC - Viajando para a Africa

Despedidas, aventuras burocráticas e muita, muita viajem, muitas, muitas horas de vôo...
Fortaleza – 16 de março
6.30 da manhã – aeroporto internacional Pinto Martins – parada obrigatória na receita federal para registrar as bikes e os aparelhos eletrônicos, identificando-os como sendo nossos para que no retorno não pareçam terem sido comprados fora do Brasil. Então, um último café com minha querida mulher e uma conversa com meu pai. Agora vamos para o chek in e daí a despedida com todos, avó querida e cheia de lágrimas, e o encontro com mais um integrante do time brasileiro – Paulo Brandão – este iria nos acompanhar até a África desde os primeiros instantes.
Felizmente nosso vôo é direto para São Paulo e saímos às 8h com chegada um pouco antes das 11.30h.
São Paulo – Guarulhos – 16 de março
Recolher as bagagens no desembarque e preparar-se para um novo embarque, agora para Johannesburg. Indo até a South African Airways descobrimos que nosso próximo chek in acontecerá só a partir das 13.30h, e então retornamos quase três quarteirões de distância dentro do grande aeroporto de Guarulhos para comer uma pizza de quase R$70,00 que o Paulo Brandão nos convidou, seria mais gentileza se ele também pagasse.
Barriga cheia, e bolsos vazios, andamos mais três quarteirões ouvindo àquela velha conversa do Alfredo dizendo que “estava tudo correndo bem, e não tinha esquecido nada desta vez”.
Carlos Lopes – ANVISA
No chek in, às 13.30h, descubro que meu cartão de vacina não vale para viagens internacionais, e rapidamente corro para a sala da ANVISA no aeroporto para tentar regularizar. No caminho vejo o Alfredo “com cara de quem viu assombração correndo em disparada a dizer que estava a caminho da polícia Federal. Porém, primeiro vou resolver o meu, porque com aquela pressa toda acho que ele iria conseguir resolver seu problema primeiro que eu. Na ANVISA descubro que é um procedimento simples e rápido, então resolvo e vou à procura do Alfredo na Polícia Federal.
Alfredo Montenegro – Polícia Federal
Chegando à Polícia Federal – com seu passaporte vencido – meu caro amigo Alfredo, em sua primeira abordagem recebe a informação de que para receber seu passaporte ele teria que esperar a Delegada que não iria chegar logo, mas que ficasse despreocupado com seu vôo, pois ele já estava perdido.
Então o que fazer, seguindo os passos de um bom aprendiz, meu caro amigo diz “tudo bem”, disfarça que vai esperar e logo que a atendente se retira ele procura outra atendente sabendo que sempre que fazemos algo pela segunda vez, fazemos melhor que a primeira, e que a cada nova tentativa fazemos melhor. Sua idéia era, “não desistirei até o vôo partir, afinal, Thomas quando foi fazer a lâmpada tentou mais de 10 mil vezes.”
Então uma nova atendente, e uma nova abordagem. Sua história: “minha querida eu estou de partida para o país da Copa do Mundo e fui escolhido para ser Embaixador do Brasil na mais importante corrida de Mountain Bike do mundo que acontece também na África do Sul. Também tenho reunião com a organização do evento e minha missão tem importância diplomática”. Contou a história, restava saber se ela acreditaria...
A atendente, um pouco confusa, lhe pede comprovação do que está dizendo. Ele se achando mais esperto, e já se sentindo “O Cara”, mostra-lhe a camisa oficial do “Brasil Ceará Team e a sua carteira da CBB emitida pela FCC – Federação Cearense de Ciclismo”. Daí então, tudo parece surtir mais efeito e sua nova tentativa foi um sucesso. O rapaz aprende rápido, agora é torcer para a primeira atendente não aparecer.
Retirar a foto no shopping, fazer o pagamento daquelas taxas e retornar para preenchimento dos formulários e uma nova foto, desta vez na Polícia Federal. Estes são seus passos , que apesar das filas são feitos em tempo hábil.
Durante isso, vemos pessoas e inclusive comissários de bordo, indo na mesma polícia apenas para marcar o dia que poderiam ir para preencher os formulários e então receber seus passaportes com um prazo não menor que 15 dias.
Em fim, tudo acaba em menos de 2 horas e lá estamos nós para terminar o check in e embarcar novamente. Pelo menos agora quando eu precisar de passaporte já sei a quem pedir, ao Alfredo Montenegro, já que ele é Embaixador do Brasil e tem essa moral toda.
Queria agradecer as pessoas da polícia Federal por terem sido tão atenciosas em todos os procedimentos, e terem se sensibilizado com nosso problema, do contrário não teríamos resolvido.
Enfim para Johannesburg
E ainda no embarque, ja dentro do aviao para o continente africano, encontramos Jose Filho e Lourenco que vieram se juntar ao time.
Novo embarque, agora para um vôo de 9 horas e saída para Johannesburg, onde temos um atraso em nossos relógios de 5 horas – devido ao fuso horário. Assim nossa chegada é às 7h da manhã na África e 2h da manhã em Brasília, o que nos deixa confusos e muito cansados. Passar uma noite inteira sentado na poltrona do avião e aquela confusão toda só deixaram minha perna bem inchada e dolorida.
Nossa chegada é no tempo previsto, e um pouco antes disso podemos deslumbrar um deserto por onde o avião sobrevoava. Em Johannesburg retiramos nossa bagagem e partimos novamente para um novo check in, desta vez para Cape Town (cidade do Cabo), o novo vôo dura mais 2 horas e chegamos no aeroporto de Cape Town para enfim alugarmos uma van e estarmos no hotel umas 30 horas depois de sair de casa no Brasil.
Cansativo, desafiante, e engraçada foi esta a característica de nossa viagem até aqui. No fim, mais uma frase de Alfredo nos deixa a rir: “Essas comédias só acontecem comigo, e quando eu voltar todos iram tirar sarro comigo”.
Carlos Lopes

CAPE EPIC - Antes de Partir


A fisioterapia, a passagem que não é emitida, a bicicleta que não chega, o calculo renal, e por fim o passaporte vencido...
CAPE EPIC 2010
Um sonho de competição para todos que desejam grandes desafios, mas estes muitas vezes estão cercados de outros mais impedimentos que querem nos enfrentar. E é nesse sentido que os dias que antecederam nossa partida foram carregados.
Alfredo Montenegro
Sábado – 06 de março - 21h, dores no abdome e uma consulta médica com conseqüente ultrasonografia detectam um cálculo renal. Daí então, uma preocupação que se disfarçou no domingo com um pequeno alívio e regressou com força total na segunda pela manhã. Mais uma vez o médio e desta vez um exame mais preciso detecta uma pedra de 7 mm que no mesmo dia fora retirada por processo cirúrgico à noite. Novo sábado, desta vez dia 13 de março – 3 dias antes de partir, agora uma nova cirurgia e mais anestesia geral para a retirada do cateter. Tudo, felizmente corre bem e agora sem a pedra já podes ir para a África.
Novo problema, agora já no aeroporto de Guarulhos a poucas horas de embarcar para a África do Sul. Um passaporte vencido e mais uma descarga de adrenalina e noradrenalina despertam nossa motivação para resolver mais este problema que como um recorde é resolvido em apenas 2 horas. “O que um bom queixo não faz, o Alfredo retirou seu passaporte em 2 horas e eu – Carlos Lopes – em 15 dias.”
Carlos Lopes
O dia é 07 de março e a competição é a 1ª etapa do campeonato cearense de mountain bike olímpico. Uma queda na 2ª volta e as duas pernas machucadas, a vontade de continuar, e o desdém com que é tratado o caso só fazem agravar a inflamação que deveria ter sido tratada de imediato, mas só foi após mais outras 8 voltas, um 3ª lugar na elite e a vitória por não ter desistido, entretanto muita dor e preocupação por tratar da enfermidade.
No mesmo dia começa o tratamento e na segunda a fisioterapia em Maranguape, a recuperação foi muito boa, porém o tempo para tratá-la é muito curto e chega o dia de viajar e a perna dói 24 horas por dia.
Não fosse só isso, outros problemas mais só vieram reforçar nossa determinação de competir na África. A bicicleta nova que só veio chegar à tarde anterior a viajem, com uma de suas rodas impossibilitada de competir por um problema de fabricação. Mas este problema resolvido e mais a regulagem da bike só vão acontecer em Cape Town.
Então, estamos no dia 15 de março, segunda-feira, e minhas passagens ainda não foram emitidas. É apenas o caso de resolver todos os outros problemas para começar a pensar neste que só foi resolvido às 22.30h (noite que antecedeu a viajem marcada para as 7h da manhã do dia seguinte), com muitos telefonemas e até uns goles de vodka para diminuir a ansiedade, goles estes que foram dados por alguém que não bebe.
Como se já não bastasse os 15 dias que ficaremos afastados de nossos entes queridos, tantos problemas assim só nos afastam de momentos preciosos que deveríamos ter tido com as pessoas que amamos, antes de partir.
É claro que muitas pessoas pensam rapidamente em desistir, contudo para quem gosta de desafios só deixa-os com um gosto ainda maior de vitória. Eu particularmente tenho mais vontade ainda de prosseguir quando as coisas começam a apertar.

“Quanto mais fortes forem nossos adversários, maior será o valor de nossa vitória”.
Carlos Lopes